Por que existem pessoas que amam demais? Saiba como lidar!
A expressão “pessoas que amam demais” é um eufemismo para aquelas pessoas com um forte sentimento de apego por outra. Assim, diante de qualquer ameaça de abandono ou não-correspondência do afeto, sentem medo intenso e realizam ações exageradas — frequentemente agressivas ou abusivas. No entanto, isso não é amor. Na psicologia, chamamos isso de apego e nem sempre ele é construído de forma positiva.
Frequentemente, esse amar demais pode ser desencadeado por transtornos psíquicos tratáveis, como o Transtorno de Ansiedade Generalizada e o Transtorno da Personalidade Borderline. Com um tratamento, a pessoa pode aprender a desenvolver uma forma de amor real e mais funcional, que leva ao cuidado e ao carinho em vez de ciúmes desmedidos, autoagressão ou violência contra o outro. Quer entender melhor? Acompanhe!
O que significa amar demais?
Na psicologia, o apego entre indivíduos recebeu bastante atenção e estudo. Desde o nascimento, o ser humano se conecta com o outro. Nesse sentido, a ausência do objeto de desejo pode provocar reações, que podem ser funcionais ou disfuncionais.
Isso é tão importante que logo nos primeiros anos da faculdade, o psicólogo conhece um dos conceitos mais famosos da área — a Teoria do Apego. De acordo com ela, as características do cuidado realizado pelo cuidador da criança influenciam a forma como ela se apega às pessoas.
O padrão funcional é chamado de seguro. Nesse caso, mesmo que sinta emoções negativas diante da perspectiva de ausência, a criança ainda pode voltar a explorar o mundo. Nos padrões disfuncionais, isso não ocorre. No apego ansioso, ela não é capaz de lidar com a ausência do cuidador, fica pegajosa, demandante e exige garantias de retorno. Essas crianças potencialmente se tornariam pessoas que amam demais.
Apesar de bastante difundida, entretanto, essa teoria foi atualizada e não é mais vista dessa forma. A genética, os fatores socioculturais, os eventos durante o desenvolvimento infanto-juvenil e as experiências atuam de uma forma complexa para gerar os mais variados padrões de apego.
Por exemplo, pessoas que amam demais são mais frequentes em uma cultura que associa amor ao ciúme e à posse do outro. Da mesma forma, pessoas geneticamente propensas a Transtornos de Ansiedade e ao Transtorno da Personalidade Borderline podem desenvolver esse “amor disfuncional” diante de traumas durante toda a vida.
São vários os fatores, mas isso não significa que uma pessoa está condenada a amar demais por causa dos genes ou de uma infância complicada. O processo psicoterapêutico adequado pode ajudá-lo a ganhar mais funcionalidade nas relações amorosas.
Quando “amar demais” é um problema?
Amar intensamente uma pessoa jamais será um problema por si só. Em algumas situações, como o amor materno, esse sentimento pode levar a sacrifícios pessoais. O amor fraterno ou conjugal pode levar um indivíduo a doar um órgão para a pessoa amada. Tudo isso ocorre sem que saia da esfera da normalidade.
O grande problema é quando esse excesso de amor se torna um sentimento destrutivo, o qual pode ser direcionado à própria pessoa, ao objeto de apego ou a um terceiro. Ao contrário das ações altruístas do parágrafo acima, elas geralmente não fazem bem para os envolvidos na relação. Podemos identificar os indícios desse amor patológico nos nossos pensamentos, emoções e comportamentos.
Pensamentos disfuncionais
No consultório, os psicólogos frequentemente ouvem a seguinte frase das pessoas que amam demais: “Sinto que não vou conseguir viver sem ele/ela”. Essa distorção é chamada de catastrofização. O mero pensamento de perda do objeto de amor faz com que a pessoa sinta uma ameaça à própria sobrevivência. Diante disso, ações disfuncionais podem surgir.
Outra frase bem preocupante é “Prefiro morrer a viver sem ele/ela”. Esse pensamento pode fazer com que o indivíduo planeje agressões contra si mesmo ou outras pessoas quando percebe o que acredita ser a possibilidade de perda ou abandono.
Emoções à flor da pele
Muitas pessoas que amam demais apresentam uma labilidade emocional exacerbada e veem ameaças em situações normais. Por exemplo, o simples fato de o parceiro conversar com outra pessoa pode gerar reações de ciúmes doentios e possessividade. Em outras palavras, situações normais se tornam gatilhos para uma série de emoções e lembranças que causam uma imensa angústia.
Comportamentos
Também podemos identificar o excesso de amor por meio do comportamento da outra pessoa. No extremo, existe o suicídio e os famosos crimes passionais contra os parceiros amorosos — os quais são expostos com frequência na mídia. Na nossa sociedade, às vezes, eles são romantizados e vistos como excesso de amor. No entanto, são expressões de formas de apego patológicas e, até mesmo, transtornos mentais.
Em alguns casos, os comportamentos são mais sutis, mas apresentam um grande potencial destrutivo, como:
- a pessoa se vitimiza e pode até inventar mentiras ( como falsas doenças) para gerar pena no objeto de apego e evitar o abandono;
- ela pode adotar comportamentos de risco, como compras desmedidas ou abuso de álcool, para lidar com as perdas.
Como superar o excesso de amor?
A seguir, confira as principais recomendações para tratar o amor patológico.
Reconheça que esse “amar demais” é um problema
Amor é socialmente associado a um sentimento positivo, belo e superior. Desse modo, o amar demais pode não ser percebido como um problema pela pessoa. No entanto, se você tem pensamentos, emoções ou comportamentos semelhantes aos anteriores, é preciso reconhecer que tem uma disfunção.
Esse é o primeiro passo para superar o problema. Para isso, esteja atento ao seu entorno: se seu par ou seus amigos apontam frequentemente que você ama demais, faça uma reflexão. Se você já se envolveu em agressões verbais ou físicas por ciúmes, faça uma reflexão.
Procure uma terapia
O amar demais tem raízes profundas em sua mente e está relacionado a esquemas emocionais e crenças centrais. Por isso, a mudança de pensamento e de comportamento não é tão simples e dificilmente ocorrem sem uma terapia adequada.
Além disso, podem estar relacionadas a transtornos mentais cujo tratamento é complexo, como:
- o Transtorno da Personalidade Borderline é caracterizado, entre outros critérios, por esforços exagerados para evitar abandono, relacionamentos intensos e instáveis, impulsividade, sentimentos de vazio e dificuldades de controle da raiva. Esses traços frequentemente são encontrados em pessoas que amam demais;
- o Transtorno de Ansiedade Generalizada pode fazer com que haja uma preocupação excessiva de perda, agitação, perda de sono e sensações de ameaça à vida (palpitações, tremor e suor frio). O gatilho para as crises de ansiedade podem ser a sensação de perda ou abandono.
Em todos os casos acima, um tratamento bem conduzido com terapia associada ou não à medicação prescrita por um psiquiatra podem ajudá-lo a superar ou lidar melhor com os transtornos.
Quando não for identificada uma causa psiquiátrica, a terapia pode ajudá-lo a entender melhor seus pensamentos, suas emoções e seus comportamentos e propor intervenções para que todos eles se tornem mais funcionais ou gerem menos sofrimento. Além disso, ela pode ajudá-lo a nutrir positivamente o amor próprio, o autocuidado, a autoimagem e a autoestima.
Por mais que seja difícil, as pessoas que amam demais precisam reconhecer a magnitude do problema. Portanto, se você se identificou com o post, dê uma chance à Terapia Cognitiva Comportamental. Se for alguém próximo, ajude-a a perceber o transtorno e a reconhecer a importância do tratamento. Faça isso com bastante empatia e calma.
Quer saber mais sobre como a Terapia Cognitiva Comportamental atua no tratamento do sofrimento psíquico? Então, entenda o que são e como funcionam os gatilhos emocionais!
Comentários (5)
Dói uma pessoa que ama demais e estou prestes a perder um casamento de 25 anos. Marido cansou da relação e deseja ir embora. Casei com 16 anos. Primeiro namorado. Estou em desespero. Não sei como lidar com essa situação
Excelente artigo. Muitas pessoas se destroem por amarem de forma doentia.
Conheço uma pessoa que diz me amar mais que tudo na vida, quero ajudá-lo mas ele não aceita tratamento, fica indisposto, não trabalha, fica sem se alimentar, quer ficar quieto sem ânimo para nada, só dizendo que me ama, e fala :” eu te amo só isto. ” Eu gostaria muito de ajudá-lo , tem como você me orientar? mas ele não quer. Infelizmente 😔 como posso convencê-lo a se tratar? Tem como? Aguardo
resposta
Eu preciso de tratamento eu tenho essa doença é preciso mim curar eu sofro muito com isso preciso de ajuda se não meu casamento de 25 anos vai acabar
Boa noite Edineia
Vamos te ajudar. Por favor, me chama no WhatsApp que posso te explicar como funciona o tratamento.
Importante é que você está buscando por ajuda.Parabéns!!!