Violência e tortura psicológica: quais são os impactos na vida de uma pessoa?

A 21ª edição do Big Brother Brasil fez o país voltar sua atenção a um tema de extrema importância: violência e tortura psicológica. Apesar de ser pouco discutido, esse tipo de abuso é devastador para o equilíbrio emocional de quem o sofre, uma vez que aniquila o seu amor-próprio, a sua autoconfiança e a sua autoestima.

Os ataques proferidos dentro da casa evidenciaram quão devastadoras são essas agressões. Embora Lucas Penteado (participante que recebeu os abusos mais nítidos) tenha decidido abandonar o programa ao se sentir isolado, raramente a vítima reconhece os impactos dessa violência não física em sua saúde mental.

Afinal, o que é a tortura psicológica e como identificar esse tipo de violência? Sobre isso que vou falar por aqui. Confira!

O que é tortura psicológica?

A tortura psicológica é um tipo exacerbado de abuso, que consiste em um conjunto de ações premeditadas, sistemáticas e agressivas à psique de uma pessoa. Quem a pratica tem o intuito de causar sofrimento para manipular, intimidar ou punir alguém sem recorrer ao contato físico.

Historicamente, o termo “tortura” é utilizado para descrever todo ato que tenha a intenção de atribuir sofrimento físico ou psicológico em contextos de guerras ou sequestros. Porém, também está presente nos relacionamentos interpessoais.

É importante comentar que o abusador pode não saber que suas ações qualificam a violência psicológica. Contudo, ainda assim, escolhe ativamente provocar confusão mental e sofrimento emocional à pessoa que desgosta.

Como identificar a violência psicológica?

Nem sempre é fácil identificar esse tipo de violência, pois a hostilidade normalmente é sutil. As agressões são disfarçadas de comentários indiretos ou levemente maldosos e emitidas com frequência à vítima, que, confusa com o comportamento do agressor, não sabe de que modo responder a elas.

Outro motivo que dificulta bastante o reconhecimento da tortura psicológica é o vínculo que existe entre a vítima e o agressor. Além de ser cometida por parceiros românticos, essa violência pode vir de chefes, colegas de trabalho, familiares, amigos e qualquer outra pessoa do círculo social de quem a sofre.

Devido ao grau de afeição entre os envolvidos, a vítima costuma demorar para perceber que está em um relacionamento abusivo. A dúvida que paira na sua mente é “será que ele(a) seria realmente capaz de fazer isso comigo?”.

Por outro lado, há casos em que os abusos são explícitos e qualquer pessoa consegue enxergar as perversas intenções de quem agride, assim como a aparência e a expressão abatidas de quem é agredido. Mesmo assim, quando confrontado, o agressor diz que estava apenas sendo honesto ou que a vítima merece esse tipo de tratamento por causa das suas ações, afinidades ou características.

Quais são os tipos de tortura psicológica?

Para ficar mais fácil identificar a violência psicológica, separei as formas mais comuns de tortura. Veja só.

Humilhações públicas e privadas

O equilíbrio emocional da vítima é abalado com humilhações que podem ser proferidas diante de outras pessoas ou não. No começo, os comentários podem não parecer muito pesados, mas tornam-se mais ofensivos com o tempo.

Aos poucos, frases como “você não é muito bom fazendo isto, não é?” viram “você não é muito inteligente, não é mesmo?” para, finalmente, chegarem a “você é burro demais!”.

Perseguição sistemática

Esse tipo de tortura psicológica costuma ser um alimento para o ego do agressor, que, para alcançar a posição ilusória de superioridade que tanto deseja, persegue a vítima incessantemente. O abusador humilha, xinga, constrange, ridiculariza e faz comentários hostis sobre a vítima na frente de outras pessoas para macular a sua imagem.

Chantagem emocional

A chantagem emocional é caracterizada pelas atitudes de manipulação do agressor sobre a vítima. Geralmente, as ações têm o objetivo de inverter a culpa em uma situação ou de conseguir alguma coisa da vítima.

Ridicularização

A vítima não tem paz, já que o abusador não deixa nada passar. As agressões criticam a personalidade, as opiniões, as escolhas, o modo de falar e de se vestir, as crenças religiosas e até mesmo os familiares da vítima, de forma constante e persistente.

Distorção da realidade

Esse é um modo clássico de tortura psicológica. Também conhecida como gaslighting, a tática distorce a palavra da vítima para que ela fique confusa em meio à própria realidade. Aos poucos, quem sofre a violência passa a duvidar da sua capacidade de interpretação dos fatos e a crer no que diz o abusador.

O agressor também pode distorcer as atitudes e as palavras da vítima perante outras pessoas, o que o consolida como o detentor da verdade e da lucidez.

Isolamento

O agressor isola a vítima de outras pessoas, já que isso eleva a eficácia das suas manipulações. O isolamento pode ocorrer por meio de afastamento físico quando a vítima entra no cômodo, de fofocas sobre ela para os demais e, também, de restrição da liberdade de expressão.

Restrição da liberdade de expressão

Aqui, a tortura psicológica se faz presente porque a vítima é impedida de se expressar abertamente. Segundo o agressor, suas opiniões, suas escolhas, seus costumes e outras características pessoais são desprezíveis ou impróprios.

À medida que o tempo passa, a vítima não sente permissão para ser quem é, passando a seguir os protocolos impostos pelo abusador.

Quais são as consequências para quem sofre essa violência?

Toda forma de violência, inclusive a física, gera impactos na saúde mental de uma pessoa. Uma vez que a tortura psicológica é praticada com a intenção de causar danos ao estado emocional de alguém, as consequências são desastrosas.

Dependendo do tempo de exposição à tortura e da demora em buscar suporte psicológico, os impactos podem ser mais duradouros. As agressões constantes destroem a autoestima e a autoconfiança da vítima, que passa a duvidar de si mesma.

Com isso, surgem os pensamentos disfuncionais e autodepreciativos. Aliás, esse é o objetivo do abusador psicológico, já que com a autoestima corrompida, a vítima cai nas armadilhas com mais facilidade, sem lutar contra elas.

Além disso, a tortura psicológica, mesmo que fugaz, pode desencadear na vítima diversos distúrbios mentais, como depressão, Transtorno de Ansiedade Generalizada, Estresse Pós-traumático e Transtorno de Pânico. A vítima está tão fragilizada, que pode ter um ataque de pânico só de pensar em interagir com o abusador.

Como se não bastasse, se a violência for prolongada, altera todo o metabolismo de quem sofre. A produção de glicose muda e os movimentos do intestino paralisam, porque o organismo direciona sua energia para outros músculos, de fuga e luta.

Também há um aumento na pressão arterial e, com isso, crescem as chances de infarto ou derrame. A vítima pode se tornar obesa, já que sua digestão está alterada, e a sua imunidade baixa, pois é necessário fortalecer os músculos.

Como lidar com esse problema?

Frente a tortura psicológica, a vítima tem duas escolhas: lutar contra ou correr e fugir. Essa constante pressão da iminência de um novo ataque pode gerar traumas para a vida toda. Porém, os danos são reversíveis se quem sofre tiver apoio e suporte profissional.

Claro, cada caso é único, e a recuperação da pessoa depende de ela ter tal conjuntura transformada. Então, a vítima da violência psicológica precisa sair do espaço em que é agredida, se afastando do abusador, e ser acolhida.

A ajuda de amigos e familiares que conhecem a fundo a situação é extremamente bem-vinda e necessária. Contudo, devido à fragilidade que se encontra, a terapia é essencial para a vítima retomar as rédeas da própria vida.

Como você viu, a violência se manifesta de várias formas, e a tortura psicológica é uma delas. Embora devastadora, a situação pode ser revertida a partir do momento em que a pessoa se afasta e procura suporte profissional para curar suas feridas e reconstruir sua autoestima.

Se estiver em um relacionamento abusivo ou conhecer alguém que precisa de ajuda, entre em contato conosco para que nós possamos auxiliar você.