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Síndrome da Cabana: quais as causas e como lidar com ela?

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Síndrome da Cabana: quais as causas e como lidar com ela?

Tudo ia bem até que uma ameaça invisível fez todo mundo ficar escondido em casa. Parece obra de ficção, mas é a realidade do ano de 2020. A pandemia de Covid-19 provocou mudanças significativas na rotina de muitas pessoas, e se adaptar ao processo de distanciamento social não foi — nem tem sido — fácil.

São incertezas econômicas, episódios de ansiedade e, claro, a solidão do isolamento e o medo de sair de casa. É nesse contexto que a Síndrome da Cabana tem chamado a atenção. Apesar de não ser um transtorno psicológico em si, é preocupante por abrir portas a distúrbios mais sérios, como depressão e crise de pânico.

Como é um tema relevante, sobretudo neste momento, resolvi explicar melhor o que é essa condição, seus sintomas, causas e como lidar com o problema. Vamos conferir?

O que é a Síndrome da Cabana?

A Síndrome da Cabana (ou Cabin Fever) não surgiu com a pandemia do novo coronavírus. O termo foi usado pela primeira vez por volta de 1900, quando muitos trabalhadores da América do Norte ficavam confinados em suas cabanas durante o inverno rigoroso. Após longos períodos de isolamento, eles tinham certa dificuldade em voltarem à vida social.

Notou a semelhança com o que estamos vivenciando? A Síndrome da Cabana, nesse sentido, é uma espécie de fenômeno natural do organismo. E, apesar de não fazer parte da Classificação Internacional de Doenças (CID-11) da Organização Mundial da Saúde (OMS), ela é preocupante, pois seus sintomas podem se transformar em distúrbios graves.

Quando não se dá a devida atenção, podem surgir problemas de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), depressão ou até mesmo Agorafobia — como alerta um artigo do New York Times em relação às crianças no período pós-pandemia.

Em resumo, a pessoa simplesmente desenvolve um medo excessivo de sair de casa, porque considera seu lar muito mais seguro e confortável do que o mundo externo.

O que pode causar essa síndrome?

A raiz do problema está no longo período de confinamento, que faz com que muitas pessoas tenham dificuldade em lidar com suas emoções e sentimentos relacionados ao distanciamento físico e social. O sinal de alerta desse fenômeno é quando os sintomas começam a prejudicar a qualidade de vida do indivíduo.

Pode ser que muita gente tenha, na verdade, gostado de ficar mais tempo em casa. Um artigo da Forbes mostra justamente esse outro lado da moeda, em que a pessoa tenha usado o lockdown como desculpa para fazer o que sempre quis: ficar mais reclusa e diminuir o excesso da pressão de compromissos e obrigações sociais.

Esse sentimento de conforto doméstico só se torna um impasse quando o sujeito não consegue mais retornar de forma saudável às rotinas comuns de convívio coletivo. É como se o cérebro se acostumasse à nova configuração do momento e entendesse que a única maneira de ter segurança e proteção é dentro de casa.

O medo de contaminação do vírus, por exemplo, acentua essa sensação, que pode se agravar devido à inconsistência das medidas governamentais diante da pandemia de Covid-19. Daí o sentimento de que o lar é sua única fortaleza e de que tudo é um risco iminente se você ultrapassar essa fronteira.

Quais são os sintomas?

Ficou aí se perguntando se está ou não com essa síndrome, acertei? Para identificar melhor a sua situação emocional, vale a pena conhecer alguns sintomas da Cabin Fever. Os mais comuns são as sensações constantes de tristeza, inquietação, irritabilidade, sonolência ou insônia e, também, desconfiança — sobretudo em relação ao externo e ao futuro.

A mudança de humor é perceptível, ligada ao sentimento de frustração e a possíveis dificuldades de concentração e motivação. Algumas pessoas também tendem a desenvolver um início de distúrbio alimentar, comendo demais ou muito pouco, bem como dando preferência a doces, frituras, fast-foods e outras opções menos saudáveis.

Se a rotina do sono estiver desregulada, também pode ser um indício de que algo está incomodando consideravelmente. Dores de cabeça constantes ainda são comuns nesses casos, que, quando acentuados, podem apresentar quadros com outros sintomas físicos, como falta de ar, taquicardia, tensões musculares etc.

Como lidar com o problema?

O primeiro passo é identificar a incidência de um ou mais sintomas que mencionei acima. Eles podem funcionar como indicadores de que há uma dificuldade desmedida em retornar às atividades rotineiras após a quarentena. Se você sentir que está desenvolvendo um medo excessivo de sair de casa, vale a pena considerar algumas sugestões. Veja só!

Comece aos poucos

Toda mudança brusca pode gerar um impacto significativo nos aspectos psicológico e emocional. Por isso, não é uma boa ideia se forçar a “sair da cabana” de uma só vez. O ideal é ir aos poucos, retomando atividades pontuais, respeitando os seus limites e o seu próprio tempo. Esse é um ato de gentileza com a sua saúde mental!

Na Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), por exemplo, chamamos isso de dessensibilização sistemática. O termo é um pouco complexo, mas a técnica é simples. Ela consiste em diminuir uma condição gradativamente, com doses mínimas e crescentes. Assim, aos poucos, a pessoa volta a lidar com a situação.

Um exemplo? No primeiro dia, chegue até a porta de casa e observe a rua. No segundo dia, ande um pouco pela calçada da sua casa. Em seguida, dê uma volta no quarteirão, e por aí vai.

Mude sua rotina

O que também ajuda bastante é realizar pequenas mudanças na rotina, a fim de ressignificar o dia a dia com essas pequenas doses de readaptação. Intercale suas prioridades profissionais e pessoais com momentos de descanso e tente adotar novos hábitos. Incluir uma caminhada matinal na sua agenda semanal é um bom exemplo!

Pense nas boas recordações

Para sair aos poucos da sua “cabana”, outra tática interessante é o uso das memórias cognitivas. Recuperar lembranças prazerosas que envolvem convívio social é uma forma de condicionar o cérebro a diminuir o medo diante de situações que abrangem o meio externo.

Viagens inesquecíveis, aniversários, churrascos em família, festas, passeios com amigos e demais momentos especiais ajudam a retomar o prazer pelo que há do lado de fora do “casulo” construído pelo isolamento social.

Busque ajuda profissional

A Síndrome da Cabana não é uma novidade para o campo da psicologia, mas não dá para negar que a pandemia é uma situação inédita para todo mundo. Então, é natural que esse tipo de problema se manifeste e é importante buscar tanto a aceitação da condição quanto ajuda profissional. Com apoio psicológico é possível reconhecer os sintomas, as causas e encontrar o melhor caminho para lidar com esse nosso “novo normal”.

O distanciamento recomendado pelas autoridades de saúde em relação ao coronavírus é mais físico do que social. Nenhuma pessoa precisa passar por isso sozinha, afinal! Portanto, conecte-se com amigos e familiares, mesmo que de maneira virtual, (re)encontre hobbies e prazeres e invista na sua saúde mental se sentir qualquer sintoma da Síndrome da Cabana ou de qualquer outro possível transtorno.

Enquanto profissional da área e especialista em TCC, posso dizer que essa é a melhor saída. Se você perceber que está com algum tipo de problema nesse sentido, saiba que pode entrar em contato conosco para resolvermos a situação, combinado?

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